
Nem todas essas páginas terão a mesma sorte. Muitas chegarão antes do meio dia aos escritórios centrais do empresariado paulistano. Outras passarão o dia com seus exemplares pendurados nas bancas de jornais - e ai daqueles que forem pendurados no Tatuapé, onde a sorte não será a mesma dos pendurados em Pinheiros.
Apesar da grande tiragem do jornal, o editorial na segunda página está condenado a um quase anônimo sucesso. Pouquíssimos o lerão, mas o farão com um regozijo impressionante. O banqueiro ligará pro seu irmão assessor do senador. O senador enviará um torpedo ao seu primo executivo da montadora. O cêeô da montadora pedirá à sua secretária enviar o editorial por fax ao seu sobrinho advogado do banco. Um mundo de recomendações cruzadas, onde todos comentarão o retorno de volares tradicionais, como a conquista pelo esforço do trabalho, a meritocracia como condição sine qua non.

A maioria dos editoriais não lidos, e inclusive alguns lidos, terminarão na feira, nas mãos de embrulhadores de verduras, frutas e caixas de ovos. Na feira não existe meritocracia, os consumidores escolhem geralmente os produtos mais bonitos e visualmente mais apetecíveis, e não aqueles que se esforçaram mais pela oportunidade de estarem ali, naquela inerte luta por se destacar.
Terminada a feira, vendoredores e compradores voltarão prás suas respectivas casas,
onde seguirão tentando se destacar na sociedade pela inércia de suas vidas cotidianas, desperdiçando inúmeras chances de melhorar de vida - chances essas que foram devidamente aproveitadas pelo irmão do banqueiro, pelo primo do senador e pelo sobrinho do cêeô da montadora, por exemplo.

Nenhum editorial de nenhum jornal brasileiro, pomposo ou não, reconhecerá a pertinencia da inércia da vida cotidiana, mesmo sabendo o destino feirante da maioria das páginas impressas em seus parques gráficos...
... o resto é silêncio!
