¿ o que nos resta ?

... um mundo vigilante, no qual mesmo em silêncio é preciso saber o que dizer.

outubro 21, 2009

Silva Não Quer Ser Racista

Quando a novela das oito mostra uma personagem coadjuvante negra defendendo a tese de que não existe racismo no Brasil, cercada por protagonistas brancas, Silva desliga a televisão e reflete alguns segundos sobre o tema. Volta a ligá-la e aparece um reclame das Casas Bahia protagonizado por Pelé. Eis aí um grande exemplo de que esse país não é racista: aqui o Rei é negro, e vive, entre outras coisa, de propagandear eletrodomésticos.

Ou será que a televisão estaria tentando lhe convencer? Justo ele? Por que?

Silva nunca pensou seriamente sobre se ele mesmo é ou não racista, menos ainda respeito à toda a sociedade. Aquilo o incomodava, queria ter uma opinião própria e não tragar em seco a opinião da tevê.

Termina a opereta e começa o telejornal, onde não há negros apresentadores, alguns negros repórteres sim, e muitos negros protagonizando os noticiários policial e esportivo. O bloco político também não mostra negros. Silva tenta recordar se já tivemos alguma vez um candidato negro à presidência da república. Talvez sim, mas ele não se lembra, e novamente desliga a tevê.

Mas Silva é teimoso e liga de novo, justo no momento em que dava uma reportagem sobre as universidades brasileiras e cotas prá estudantes negros.

Seria outra coincidência, e a prova cabal de que o brasileiro não é racista? Ou mais uma manobra do aparalho prá fazer ele e toda a classe média engolir a teoria de um Brasil sem racismo?

Prá terminar aquela briga com sua consciência, Silva define prá si mesmo que o Brasil é grande e tem gente de todo o tipo, racista e não racistas, como em todos os países. Ponto! Mas onde estão uns e outros? Qual é a predominância nos centros de poder? Não interessa! Já está tarde, é hora de dormir!

Antes de desligar, uma vinheta anuncia o carnaval com várias mulatas desconhecidas e algumas poucas brancas que figuraram nas capas da Playboy. Quantas negras foram capa da Playboy? Silva não sabe, e prefere a impressão de que pelo menos na vinheta elas são maioria.

Cansado do tema, busca o controle prá desligar definitivamente o aparelho, quando o boletim futebolístico mostra uma estranha (ou teria sido oportunista?) matéria lembrando os casos de brigas entre jogadores brasileiros e argentinos, enfatizando termos como "macaquitos", "negros de mierda", e por aí vai.

Click e boa noite! Silva vai prá cama mais aliviado, pois no final ele não deve ser mesmo racista, o país onde ele vive tampouco. Racistas são os argentinos!

Lhe resta apenas uma singela preocupação.

Silva quer parar de acreditar na televisão, mas não consegue...

... o resto é silêncio!


13 ruídos:

Katiuscia Pinheiro disse...

Ahahaha, racistas são os argentinos! rsrs
Seria muito bom se a maioria pelo menos tentasse não acreditar na televisão...
Bjs.

Andressa Luzirão disse...

Abaixo às cotas!!!! Um racismo por baixo dos panos, preconceito às escuras! Do negro para o próprio negro. De qualquer cor para qualquer cor. Finge, que eu finjo que acredito.
...Ah, racismo? No Brasil? Ô Silva, é melhor desligar a TV.
Bacana Victor!!!

Anônimo disse...

Racismo existe no país, ainda que de forma velada...mas estamos passos à frente de outros países...mas realmente a TV tenta demonstrar que não há racismo no Brasil...o que como já dito, não é a pura verdade...
abraços,
www.andretaka.wordpress.com

Átila Serdera disse...

Eu tinha um amigo de infância bem negrinho, o Alberto, eu andava sempre com ele fazendo trabalhos de grupo e jogando bola, uma vez estávamos discutindo sobre racismo na classe e a própria professora disse: "eles são negros mas a alma é branca" (?). Até hoje lembro disso e eu ficava imaginando minha alma branca e a alma do Alberto negrinha, bem escura, como é que um negrinho pode ter alma branca, pensava eu com meus 9, 10 anos. Hoje percebo o racismo por trás dessa frase da professora, e uma pena que nunca mais vi o Alberto, um cara super bacana e que jogava muita bola. Parecia um pouco o Buba, amigo de exército do Forrest Gump.
Abraço.

Aline Tolotti disse...

Às vezes me sinto como Silva. Parece que tudo indica e tudo me leva a crer no racismo, mas meu eu, mais forte e seguro de si vem em consciência e logo bloqueia todas as informações. Eu detesto racismo, não sou e tenho plena convicção disto.
Mas que "eles" fazem lavagem cerebral, ah, eles fazem... a tv foi um ótimo exemplo mesmo.
Beijos.

Anônimo disse...

Excelente... Até parece que vc assiste tv no Brasil... Beijos, M....

Anônimo disse...

Trótsky tentou internacionalizar a revolução.
Alguém devia tentar internacionalizar a miscigenação.

Anônimo disse...

Racistas, nós???? Nunca!!!
Seria comigo não fosse trágico...
Hipocritas, é isso q somos...
sabemos q no íntimo da maioria ainda persiste esse sentimento de superioridade da raça ariana...
Triste, levando-se em consideração que vivemos em um país onde a grande maioria da população é miscigenada...
Negros, mulatos, índios...
Qtos de nós pode se dizer "sangue puro" ariano???
Uma minoria...
As obras de dramaturgia so demonstram esse racismo embutido em cada um de nos...
Já percebeu que sempre mostram um negro que alcançou o sucesso com o suor do seu trabalho...Um negro... apenas um entre milhares...
E qtos brancos???
Pense, no fundo do seu âmago, não há racismo em sua alma????

valeria silveira disse...

Cotas para Negros...
Mais uma forma de expressar o racismo ou simplesmente uma tentativa de retratar um passado inglório de escravidão???

Maykon disse...

Bom, o texto...
Não resta dúvidas de que, não só o brasileiro, mas o mundo é preconceituoso... Acho que a TV reflete o que é o mundo: cheio de preconceitos e querendo convencer todo mundo do contrário.
Eu sou assim e praticamente todo mundo q eu conheço tb é ... A TV é somente um reflexo da sociedade e não poderia ser diferente.
Mais do que uma TV diferente, precisamos de uma sociedade diferente.
Abraço e parabéns pelo blog.

Ricardo Farinelli disse...

Olá Victor, legal esse blog, quanto ao assunto em pauta, acho que o racismo diminuiu bastante nos dias atuais, digo isso porque na minha adolescência tinha uma turma de quatro amigos e um deles era negro, isso nos idos de 1975 e naquela época sentiamos mais o racismo, era mais declarado. Hoje, parece ou menor ou mais velado. Agora, racismo eu vejo mais nos próprios negros, de negro para negro, por incrível que parece. E olha que falo com conhecimento de causa.
Beijos a Xime e Tito e a você
Ricardo

André Leite disse...

Infelizmente o preconceito existe contra todos, seja ele branco, azul ou amarelo. Imagine um branco sair na rua com uma camiseta onde os dizeres 100% branco estejam estampadas no peito?
Não são somente os negros que sofrem com o preconceito, por vivermos numa era "politicamente correta", muitos não assumem e a coisa fica ainda mais velada.
Ótimo texto Vic!

Paulo Barros disse...

Muito bom o texto que destaca com sutileza essa hipocrisia social deveras reacionária que vive o povo brasileiro. O Brasil tenta se enquadrar no protocolo do "politicamente correto" pelos ventos da modernidade européia, que é menos hipócrita, mas não menos blazé em relação ao assunto preconceito social. O Problema é que no Brasil a modernidade é ter um Ipod e não abertura do pensamento social. Esse teu post vem em tempos onde a bárbarie salienta acontecimentos no seio de nossa juventude estudantil como mostro nos dois links a seguir:

http://www.youtube.com/watch?v=MWshuIBuTps

http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL1360027-5605,00-UNIVERSIDADE+TENTA+APAGAR+VIDEO+SOBRE+ALUNA+COM+ROUPA+CURTA.html

Si, macaquitos somos nosotros!

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