¿ o que nos resta ?

... um mundo vigilante, no qual mesmo em silêncio é preciso saber o que dizer.

janeiro 07, 2010

O Beijo de Bronze

Nos conhecemos ao anoitecer e, já no raiar do dia seguinte, amanhecemos nús entre as flores do mais belo jardim da praia. O sabor do eterno em nossas bocas exigia um beijo mais, tão poderoso que seria capaz de deter o tempo.

E o tempo parou! As pessoas se congelaram. Saimos do jardim a explorar aquele novo mundo feito uma imensa galeria de estátuas humanas.

Parecia divertido, no princípio, ver aquelas pessoas oferecendo-nos sua intimidade estática. Entre tantas cenas vulgares, havia pessoas de todos os tipos. Umas amando, e algumas literalmente. Outras matando, e algumas literalmente. E muitas caras conhecidas, cujas rotinas eram tão ortodoxas que, estando inertes, pouco se diferenciavam de suas anteriores versões movediças.

A imobilidade transformava até o urbano em bucólico, mas lá vinha você com seus olhos brilhantes, resgatar meus olhos capturados por aquela solidão e pela metáfora da eternidade que ambos invejávamos.

Antes que o tédio pudesse consolidar-se em nossas almas, você me propõe um novo e definitivo beijo mágico, e me leva de volta ao jardim onde havíamos despertado.

Novamente, nossas bocas se exigiram. A paixão que mesclava nossas línguas voluptuosas parecia querer transformá-las numa única peça de bronze, moldando a lânguida escultura de um beijo imortal.

Também nossos corpos desnudos, passarela de nossas mãos desejosas, eram carne se fazendo bronze, a perpetuar aqueles carinhos.

Nosso amor, no segundo anterior, tornou-se o maravilhoso monumento de um beijo que nunca terminou!

E o tempo, no segundo posterior, tornou a correr. As pessoas ao redor se livraram da imobilidade do tempo, retornando ao cotidiano imóvel de suas agitadas vidas.

Nenhuma delas percebeu que o mais belo jardim da praia contava com sua nova e mais bela estátua...

... o resto é silêncio!

9 ruídos:

Anônimo disse...

Caraca!! Esse foi o melhor texto do blog até agora!

Me emocionei mesmo, de verdade.

Parabéns, cara!
Marcelo

Maykon disse...

Muito bom!
Quem nunca sonhou em deter o tempo?
Verei as estátuas com outros olhos, a partir de agora.
Abração,
Maykon
http://amenidadescronicas.blogspot.com/

Anônimo disse...

Esse é meu garoto, meu sobrinho poeta, sempre nos surpreendendo.
e, agora, nos brindando com essa peça maravilhosa, texto bem elaborado, pensamento desnudo e criativo.
Suas palavras me tocaram.
Parabéns!!! mas, não pare, continue, quem tem talento, deve usar e abusar.
Sérgio Lapa

Átila Serdera disse...

Victor, muito bom o texto. Abraço.

Anônimo disse...

Nossa, também me emocionei!!Como vc escreve bem!
Fico pasma com tanto talento seu...verdade!!
Você é especial, meu sobrinho. Parabéns!
bjs
Magali

Katiuscia Pinheiro disse...

Lindo, Victor, lindo mesmo!
Bjs, Kati.

André Leite disse...

Mais uma vez, parabéns!
Eu já gostava do conto em espanhol (era o meu preferido) e gostei de como você soube ampliar os horizontes desta estória.
Adoro a idéia da estátua, sensacional!
Parabéns de novo!

Sebas disse...

Muito bom Victor!! Muito para analizar neste texto! Forte abrazo!

Lindenberg Mota disse...

Sensacional!
Melhor texto teu que ja li!
Continua assim!!

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